Cabrobó, Desmedida: Scania

Eu queria falar de Bedengó  
Bedengó  fica no sertão  euclidiano
Bedengó é a desmedida de Ruy Duarte de Carvalho
Desmedida é um ensaio sobre o sertão que margeia o Rio São Francisco
Desmedida é o Scania da capa do livro e desmedida é Cabrobó
Eu queria falar de como o ensaio se ensaia no livro de Ruy Duarte
De como ele ensaia as imagens poéticas de Guimaraes Rosa, Euclides da Cunha e São Francisco
Ruy Duarte fotografou o sertão ensaístico
Sua fotográfica é esta: o sertão só é sertão nas imagens de Grande Sertão: veredas, Os Sertões e Desmedida 
Mas queria falar de Bedengó que é desmedida
Desmedia é, até agora, meu maior achado poético ensaístico do curso de letras da Unifesp
Desmedida sou eu o sertão que está contido nele e desmedida é o curso: ensaio: gênero sem gênero
Desmedida é o desmedido de Antonio Houaiss:        que se desmediu- acima da média usual- enorme, imenso, cuja dimensão ou forma excede o comum...excessivo, exagerado, desmesurado, abusivo, cuja intensidade ou grandeza se apresenta fora do comum...ausência de medida...isso, ausência de medida é uma boa definição para o sertão e por analogia , ao gênero ensaio. Ensaio: incomensurável: que não tem medida comum com outro gênero: sertão e ensaio: não tem divisor comum
É o que Euclides da Cunha diz do sertão: o sertão brasileiro e o sertanejo são desmedidos
Não há analogia possível com outra região da terra, nem o sertanejo pode ser comparado a nenhum outro tipo humano
O sertão é o ensaio ( Desmedida) e o ensaio ( Desmedida) é o sertão
Questão de coordenação : Desmedida ensaia o sertão do Rio São Francisco e o sertão ensaia o ensaio de Ruy Duarte
Questão metalinguística: um livro falando de si...o sertão fez o livro e o livro fez o sertão
Em Desmedida a paisagem não é a paisagem literária de: Grande Sertão: veredas e Os Sertões
Algumas imagens do “álbum de fotografia” daquele lugar poético: a poesia está nos nomes dos lugares, das plantas e das pessoas
Em como um livro ensaia a beleza que há na realidade agreste do sertão:
Jeremoabo, onde Lampião e Maria Deia se cismaram...
Jeremoabo fica-lhe a noroeste e , a sul, Canudos, por onde irei passar... depois vou a São Francisco, Euclides da Cunha, Tucano, Uauá, Pilão Arcado, Caruaru e por fim um mergulho no Vaza-Barris: rio símbolo da tragédia de Antonio Conselheiro
Eu queria falar de como Desmedia é um ótimo termo para conceituar o gênero ensaio: se este, como aprendi no curso gênero sem gênero , é um gênero de difícil definição: sua terminologia é flexível e abrangente ao extremo... os parâmetros usados para aferi-lo não se compra no boticário nem no armazém de Bedengó
Desmedida é a imagem e semelhança do sertão procurado por Ruy Duarte
No Grande sertão: veredas o sertão é o mundo, está em toda parte e vive dentro da gente... Nos Sertões o sertanejo é antes de tudo um forte
Isso Ruy Duarte foi conferir na sua viagem rosiana e euclidiana
Foi e viu a paisagem das paragens do São Francisco...viu que o que é semelhante é diferente:
E até de Monte Santo quando aí vier à tona depois de ter furado os túneis das caatingas e mergulhado no mercúrio dos céus e das águas de um lapso de angústia, tendo ainda anotado que a muralha a pique se impõe de muito longe, a ir para lá, e que a largueza à volta me aliviava a alma, só vou dizer que vindo para cá, e enquadrado no espelho do retrovisor, o efeito dos feixes de luz, que incidem das nuvens a convergir para o santuário, me remetem afinal ao inocente kitsch de um cromo de primeira comunhão. Porque ele disse que a Serra de Monte Santo, a pique, pois, desaperta os horizontes e desata os campos gerais numa grandeza de perspectivas em que o céu e a terra se fundem em difusão longínqua e surpreendedora de cores, flores benignas e ressurgidas festivas claridades, eternidades sob um firmamento onde a transparência e a limpidez dos ares é completa, inalterável e estável. Que Euclides não tenha dito, sem que a impressão que eu guardo fique a dever nada a ele (CARVALHO, 2010, p. 381).
Essa citação é a síntese do livro do Ruy Duarte
Onde ele vê a mesma paisagem de Euclides da Cunha
Mas tira uma fotografia onde a poesia do lugar é deslocada para outra imagem...viu o que viu Euclides, mas não captou a mesma imagem
Da mesma paisagem ele fez outra paisagem
Ruy Duarte saiu de Angola rumo ao sertão brasileiro...veio para ver as paisagens de Guimaraes Rosa e Euclides da Cunha...veio para uma pessoa de rio: o São Francisco
Em sua memória de antropólogo e poeta, o Brasil é um país desmedido, incomensurável...veio pra colocar o São Francisco num “tubo de ensaio”
Colocou-o, mas não se conteve... viu que o “tubo de ensaio” não era um bom parâmetro  para medir antropologicamente e poeticamente o São Francisco
O “tubo” usado por ele é sua bagagem literária...essa não deu conta
Desembarcou em Januária, Minas Gerais
Januária é lendária: lá Riobaldo encontra o menino Reinaldo ( Diadorim)... lá Ruy Duarte encontra o rio, este é maior que a paisagem poética do Grande sertão: veredas
O rio transborda... é a desmedida do rio... não há as duas margens, como não há a terceira margem do rio
O rio é incomensurável,  não pode ser medido por polegada, ou metro e léguas... o rio parece infinito, quando se está navegando por ele...
Esse é o livro do Ruy Duarte de Carvalho
Foi colocar a prova o sertão do rio são Francisco...foi colocar a prova as imagens literárias e antropológicas do rio...
Não as encontrou, mas encontrou paisagens que não estava contida nos livros
Isso é o ensaio: conhecer o que ainda não se conhece...buscar a verdade literária fora da literatura: Desmedida
Isto é o ensaio: os parâmetros usados para medi-lo são desmedidos como o rio são Francisco quando na sua foz ele esparrama no mar e se perde para sempre
O gênero ensaio é: tem começo, meio, mas não tem fim...o  fim é incomensurável ... por isso um gênero sem gênero: não se sabe o que é o rio São Francisco quando o mar o recebe.
Mas também, agora aqui, de regresso a São Paulo e ouvindo nesta esplendorosa manhã de domingo os cânticos que sobem de um templo da congregação cristã do Brasil no outro lado da rua, é a viagem do próprio livro que pede para chegar ao fim ( CARVALHO, 2010, p. 379).
Esta é a epígrafe da “Bedengo” de Ruy Duarte de Carvalho, quando concluía seu livro de viagem.
Qual o parâmetro usado para medir esses cânticos?
Este: pela janela da sala 308, Unifesp Guarulhos, se avista, no cume do monte, a congregação cristã do Parque das Nações, Guarulhos
Eu fui lá conhecer o cântico da qual se referiu Ruy Duarte
Como fiquei conhecendo: numa terça a tarde, um senhor, negro, como os míticos cantores de jazz americanos, estava tocando seu sax barítono, num culto da Congregação
Numa esplendorosa terça a tarde eu ouvi esse cântico: “O vitupério de Jesus”, hino número 411, do hinário usado por aquela irmandade
Fui para conhecer uma imagem poética de Ruy Duarte de Carvalho...a dele, não conheci, mas conheci a minha: fiquei emocionado
Minha epifania

Meu alumbramento

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