Existiu no Sertão brasileiro dois personagens versados no ramo vagamundos.Estamos nos referindo a João Monlevade e Jeremoabo.Dois vagabundos e andarilhos que tinham por ofício atravessar todas as rotas rodoviárias e ferroviárias existentes país afora.
      Na hierarquia trabalhista dos viandantes: João Monlevade ora era senhor, ora era servo de Jeremoabo;Isto dependia do contexto sircusntancial,ou seja,a especialidade de cada um. João Monlevade tinha por especialidade surrupiar alimentos para subsistência de ambos.Digamos que aqui ficamos conhecendo a arte de um mestre larapiano,o melhor que já existiu por aquelas paragens.Agora Jeremoabo era um vagabundo culto,conhecia todas rodovias brasileiras, sabia o nome de todas,conhecia todas as cidades por nome,apelido,condição social e os escambal afora.Também era versado em música,mas não qualquer música,nada de jazz,folk,rock , country ou mpb;ele era um exímio conhecedor de uma música que não consta dos anais da história musical: O ronco dos motores dos caminhoes scanias 113;quer dizer,ronco não!Nona sinfonia em Ré menor-motor scania 360 HP.
      Em suas andanças às margens das rodovias, ele levava um gravador para documentar a sonoridade  musical dos 113 em circunstâncias diversas,ou seja, subindo serra ou saindo ou entrando nos postos de serviços,etc.
     O que para Jeremoabo se caracterizou uma sinfonia, foi que, estando ele lendo à sombra de um pé de jacaranda um dos volumes da obra de Marcel Proust " EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO",seus sentidos foram despertados pelos sons de vários scanias trafegando pelo interior de um posto de serviços.Era o ano de 1997, ano que simboliza o fim da era dos motores mecânicos e início dos eletrônicos.Findou nesse ano a era áurea dos motores e seus roncos característicos.E em falando em ronco de motores ,não há nada mais sublime e apaixonante do que 113 "cantando" .Segundo Jeremoabo e seu profundo conhecimento musical, os scanias funcionando simultaneamente, com os motores afinadíssimos, constitui junto com bach, mozar e vivaldi,as obras primas da arte musical.No que João Monlevade  é de opinião que esta “poesia maltrapilha e andante” estava sendo modesto para não desagradar os puristas da música,pois ele nos confessou que  nesse dia estava ao lado do mestre das trilhas sonoras das estradas , e ouvi-lhe exclamar em êxtase:Em música ,nada é mais sublime que esses sons mecânicos!!!!
      No seu canto do cisne , a maquina superou o homem, e o homem em seu orgulho de burguês mesquinho, aniquilou a única obra-prima produzida por um motor mecânico.
  PS: Com o fim dos motores mecânicos e  inicio dos motores eletrônicos,os motores scanias perderam seus sons magníficos e a estrada perdeu sua última trilha sonora.









Comentários

Unknown disse…
Oi, amigo! Mucito interessante sua narrativa.Como morador em Jeremoabo gostaria muito de mais detalhes sobre esse seu personagem.
Araripe disse…
Olá.Jeremoabo é um personagem inspirado em alguns andarilhos que encontrei pelas estradas brasileiras.Quanto ao nome da personagem se deve ao fato de eu achar o nome Jeremoabo o mais belo nome de uma cidade.Este nome pra mim tem um valor mítico,pois meu velho pai sempre falava muito bem da região de Jeremoabo.Quanto ao conhecimento musical do personagem é devido ao meu gosto musical,ou seja,para mim,a melhor musica que toca nas estradas,é o som do motor dos scanias 113.